quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Breves, brevíssimas notas sobre consciência, conscientizar(ção), Alice, Matrix e Sociedade dos Poetas Mortos. O que tem em comum?

Este é um pequeno ensaio [ou nota, como o próprio título diz] produzido pela professora Rozélia Bezerra, coordenadora do Laboratório de Humanidades da UFRPE.
 
Breves, brevíssimas notas sobre consciência, conscientizar(ção), Alice, Matrix e Sociedade dos Poetas Mortos. O que tem em comum?
 
Por Rozélia Bezerra
Na terça-feira (07 de junho de 2011) nos reunimos no LabHum-UFRPE para continuar a leitura de Alice Através do Espelho. Lá pelas tantas, chegamos no ponto de debater a pressa da rainha e sua corrida desenfreada com Alice. Foi quando alguém perguntou: Correr para que? Para chegarmos em que ponto? E Máina falou da loucura da universidade, da corrida desenfreada pelo tal curriculum lattes, da afobação que se vive, dos baobás, poucos, mas poderosos, alimentados pela corrida científica.  Aí alguém lembrou que só entra nessa correria quem assim o deseja, que quem tem consciência não faz isto. Foi quando questionei: Então, o que é consciência? Alguém falou de “ego, super-ego, id”. Carol falou que treme nas bases quando ouve estes termos. E eu perguntei: Alguém é capaz de conscientizar o outro? E Maria Clara...“desisto, não sei o que é. Acho que é moral”. E Rhayssa lembrou de Paulo Freire, e disse que "não, não se conscientiza o outro". Nesse ponto chegou-se à conclusão: consciência é algo que a gente tem ou não. Vinda de fora passamos a ser doutrinados.
Pois bem, a partir daqui prefiro trazer algumas notas. Primeiro esclarecer que é impossível esgotar o tema, principalmente, em tão pouco tempo como é o LabHum e mesmo aqui neste texto, por isto mesmo as notas, anotações.
As meninas (elas sabem quem são) disseram que pegaram uma mania de analisar a etimologia das palavras para compreendê-las. Então vamos fazer essa digressão para segui-las e para tentar compreender a tal consciência, conscientizar(ção). Co, cum, dá a idéia de contiguidade, continuação, companhia. Por sua vez, ciência, (do latim sciēns-entis) significa conhecimento, saber, informação. Portanto, consciência (do latimconsciens-tes) significa ter conhecimento de algo e conscientizar-se é tomar consciência de uma dada realidade concreta, que tanto pode ser existencial, quanto social. Isto não é fácil e deriva de um longo esforço.
Tem um blog que gosto porque nos fala, de modo simples sobre de coisas complexas[1]. Considero feliz o que o dono dele (nem sei se é assim que fala) escreveu sobre conscientizar-se. Olha só: “un ciego no ve las cosas porque alguien se las describa. Tiene que verlas él mismo. A ese ver él mismo es a lo que podemos llamar concientizarse, o sea, a una especie de comprensión que nace de un esfuerzo prolongado.Porque implica una lucha y conquista personal de la libertad, de la autonomía del sujeto, y, como decía Paulo Freire, la libertad es un parto lento y doloroso”.
E eu pergunto: quem quer algo difícil e doloroso? É tão mais fácil a efemeridade do moderno! A certeza conferida pelo moderno. A indiferença que este moderno favorece. E isto nos leva a correr e só ver, de passagem, as coisas e as pessoas que estão ao nosso redor. Seja correndo com a Rainha, seja correndo atrás do Coelho Branco, estamos correndo. E, se não tomarmos cuidado, daqui a pouco estaremos repetindo o que eles dizem “Mais rápido, mais rápido...é tarde, estou atrasado, estou atrasado”.
Neste ponto lembro de filmes: “Matrix” (com sua fé absoluta na ciência e o esquecimento do humano e no ser indiferente) Por fim, chamo a atenção para uma coisa: o fato de conhecermos um caminho nos leva, necessariamente, a enveredar por ele ou somos livres para uma escolha? Recorro ao filme  “Sociedade dos poetas mortos” para pensar sobre a vida ser feitas de escolhas e ser um poema. Por isto reforço a pergunta essencial que o professor faz aos meninos: “com qual verso você quer contribuir?”.


[1] http://educayfilosofa.blogspot.com. Por Marcos Santos Gómez.

Um comentário:

  1. Muito bom, muito bom mesmo. Estou ainda tentando passar por esse "parto longo e doloroso". Realmente o é. É mais fácil fechar os olhos, mas não devemos. Não podemos.

    Com que verso quero contribuir? Ainda não está claro, mas continuarei tentando descobrir.

    ResponderExcluir