quinta-feira, 31 de março de 2011

Em Todos os Sentidos - Olfato: O Sentido Mudo.

Nosso primeiro texto de uma série de cinco. Por isto o título "Em todos os sentidos"


EM TODOS OS SENTIDOS
Por Rozélia Bezerra


1. OLFATO: O SENTIDO MUDO.

O que dizer do olfato?
            Isabel Allende[i] nos diz que é nosso sentido mais antigo. Que o gosto e o olfato são inseparáveis. Em sua prosa ligeira escreveu “A tentação do café não nasce do sabor, que deixa um resquício de fumaça na lembrança, mas dessa fragrância intensa e misteriosa do bosque remoto. Com os olhos fechados e o nariz tampado não podemos distinguir entre uma batata crua e uma maçã, entre gordura e chocolate”.
Por sua vez,  Helen Keller, uma americana, cega, surda e muda dizia que “O olfato é um mágico poderoso que nos transporta, percorrendo a distância de milhares de milhas e de todos os anos que vivemos...Mesmo quando apenas penso nos cheiros, minhas narinas ficam plenas de aromas que despertam doces memórias de verões passados e campos distantes.”
Segundo Diane Ackerman[ii], os cheiros tem forma e podem ser agrupados em categorias básicas: mentolado (menta, hortelã), etéreos (pêras), desagradável (ovos podres). Os alimentos, em grande parte, dependem de seu cheiro para terem sabor. Para ela “pensamos porque cheiramos”.
O olfato foi estudo foi estudado por um médico francês chamado Nöel Hallé que resolveu analisar os odores parisienses nas margens do Sena.
Chico Science dizia que “O Recife fede”.
Mas, Al Pacino, no filme “Perfume de Mulher”  é quase mitológico. Tem aquele outro filme lá “O Perfume”. Eu tinha lido o livro lá pelos idos de 1990. È avassalador.
Mas que melhor nos fala de olfato  é Adélia Prado.

      A menina do olfato delicado – Adélia Prado.
 
Quero comer não, mãe
(no canto do fogão o caldeirão esmaltado)
quero comer não, mãe
(arroz com feijão, macarrão grosso)
quero comer não, mãe
(sem massa de tomate)
quero comer não, mãe
(com gosto de serragem)
quero comer não, mãe
(com cheiro de carbureto)
quero comer não,
(vi um gato no caminho, fervendo de bicho)
quero comer não, mãe
(quando inaugurar a luz elétrica e o pai
consumir com o gasômetro, eu como).
Vamos ficar no escuro, mãe. Põe lamparina,
põe gasômetro não, o azul dele tem cheiro,
o cheiro entra na pele, na comida, no pensamento,
toma a forma das coisas. Quando a senhora tem
raiva sem xingar é igual a ruindade do gasômetro,
a azuleza dele. Vomito mãe. Vou comer agora não.
Vou esperar a luz elétrica


 


[i] No livro Afrodite.
[ii] Uma história Natural dos sentidos, Bertrand Russel, 1990.
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